Parentalidade e vínculo: como a relação inicial molda a saúde emocional ao longo da vida

Por Luis Ismael dos Santos · Psicólogo clínico (CRP 07/40640)

O que é vínculo, afinal?

Na ciência do desenvolvimento, vínculo não é sinônimo de amor, mas de regulação emocional compartilhada. John Bowlby foi claro: o bebê não busca apenas alimento ou cuidado físico, busca segurança relacional.

Mary Ainsworth confirmou empiricamente essa ideia ao demonstrar que a sensibilidade do cuidador, e não a perfeição, é o principal preditor de um apego seguro.

O consenso científico

Ao cruzar Bowlby, Ainsworth, Winnicott, Stern, Tronick, Beebe, Fonagy e Schore, há um consenso sólido:

  • O vínculo se constrói na interação cotidiana, não em momentos excepcionais.
  • Não existe cuidador perfeito — existe cuidador suficientemente bom (Winnicott).
  • A qualidade do vínculo impacta regulação emocional, autoestima, confiança e saúde mental futura.

Tradução para o cotidiano

Pense no vínculo como um sistema de Wi-Fi emocional.
Quando a conexão é estável, a criança explora o mundo com segurança.
Quando a conexão oscila, ela gasta energia tentando “reconectar”.

Evidências empíricas recentes

Revisões contemporâneas mostram que depressão e ansiedade parentais afetam a sintonia interacional, enquanto intervenções precoces focadas na relação melhoram o vínculo, mesmo em contextos de risco.

Aplicabilidade prática

  • Vínculo não se mede por culpa, mas por presença emocional possível.
  • Reparações são mais importantes que acertos.
  • Psicoterapia parental protege o bebê indiretamente.

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Referências (APA)

Bowlby, J. (1969/1982). Attachment and loss: Vol. 1. Attachment. Basic Books.

Ainsworth, M. D. S. et al. (1978). Patterns of attachment. Lawrence Erlbaum.

Winnicott, D. W. (1965). The maturational processes and the facilitating environment. Hogarth Press.

Stern, D. N. (1985). The interpersonal world of the infant. Basic Books.

Leppänen, M. et al. (2024). Early psychosocial parent–infant interventions. Frontiers in Psychology.

Diniz, B. P. et al. (2023). Mother–infant bonding and postpartum depression. Revista SciELO.

Sobre o autor

Luis Ismael dos Santos é psicólogo clínico (CRP 07/40640), com atuação em saúde mental, perinatalidade, parentalidade e desenvolvimento humano.

Seu trabalho integra escuta psicanalítica, base científica e cuidado ético ao longo do ciclo vital.

"A psicanálise oferece ao sujeito a chance de deixar de ser apenas um portador de sintomas

e tornar-se autor de sua história."

MANNONI, 1986