🧠 Ansiedade: Quando o Alerta Vira Prisão — Entenda os Transtornos de Ansiedade Pela Psicanálise e Ciência

A ansiedade, em si, não é uma inimiga. Pelo contrário: é um recurso psíquico que protege. Um estado de alerta que evolutivamente nos prepara para reagir a ameaças. Mas o que acontece quando esse alerta se torna um cárcere constante, limitando nossa liberdade de viver?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2023), os transtornos de ansiedade afetam cerca de 301 milhões de pessoas no mundo, com crescimento acentuado na última década. No Brasil, dados da Secretaria da Saúde indicam que quase 20% da população apresenta algum nível de sofrimento relacionado à ansiedade.

Mas nem toda ansiedade é transtorno — e nem todo sofrimento psíquico é doença. Aqui, a psicanálise e a psiquiatria dialogam para trazer uma escuta mais ampla.

 

O que é ansiedade?

A ansiedade é um afeto universal e estruturante. Segundo Freud (1917), trata-se de uma manifestação do conflito psíquico inconsciente: "A ansiedade é sempre o resultado da repressão". A ansiedade, portanto, não é uma emoção qualquer: é uma forma que o inconsciente encontra para sinalizar que algo está em jogo — uma perda, um desejo, uma ameaça à integridade do ego.

A psicanalista francesa Françoise Dolto dizia que “a angústia é o alarme do ser quando ele não consegue traduzir em palavras o que o corpo já sabe”. Assim, o sintoma ansioso pode ser escutado como mensagem, não apenas suprimido como incômodo.

 

Quando a ansiedade se torna transtorno?

O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) reconhece uma família de transtornos de ansiedade, como:

  • Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)
  • Fobia social
  • Transtorno do Pânico
  • Transtorno de Ansiedade de Separação
  • Fobias específicas
  • Transtorno de Ansiedade Induzido por Substâncias

 

Esses quadros compartilham sintomas como:

  • Preocupação excessiva
  • Tensão muscular
  • Irritabilidade
  • Insônia
  • Medos desproporcionais
  • Taquicardia, sudorese, falta de ar.

 

Mas a psicanálise vai além do diagnóstico: ela pergunta “de onde vem esse excesso?” e “o que ele está encobrindo?”.

 

O que a psicanálise tem a dizer sobre os transtornos de ansiedade?

Para Melanie Klein, a ansiedade se origina de fantasias inconscientes primitivas, ligadas à posição esquizo-paranoide (onde o eu teme a destruição) e à posição depressiva (onde teme a perda do objeto amado). Já para Donald Winnicott, ela pode ser fruto de falhas ambientais nos cuidados iniciais, gerando angústias impensáveis (Winnicott, 1960).

Segundo a Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (SPPA), muitos quadros de ansiedade severa estão associados a falhas no processo de simbolização do sofrimento, exigindo uma escuta terapêutica que vá além da nomeação diagnóstica.

A International Psychoanalytical Association (IPA) também aponta que o excesso de medicalização pode silenciar sintomas que, na verdade, precisam ser decifrados, não apenas eliminados.

 

Exemplo Clínico Fictício

Joana, 32 anos, procurou atendimento por crises de pânico. Sentia que ia morrer, não conseguia ficar em lugares fechados. Após acolhimento psiquiátrico e estabilização com ansiolítico, iniciou psicanálise. Na escuta, emergiu um luto não elaborado: a perda repentina da mãe na adolescência. O sintoma físico carregava o afeto congelado de uma dor não simbolizada. A cura não veio da medicação, mas da palavra: “Só na análise eu pude sentir minha mãe de novo”, disse Joana, meses depois.

 

Como lidar com a ansiedade?

A escuta clínica exige um olhar ético e multidisciplinar. Algumas orientações:

🔹 Busque ajuda profissional — psicólogo ou psicanalista capacitado
🔹 Em alguns casos, a avaliação psiquiátrica é necessária
🔹 Práticas como meditação, respiração e atividade física ajudam a regular o corpo
🔹 Evite autoexigência e pensamentos catastróficos
🔹 Não se compare: cada psique tem seu tempo

 

A psicanálise como caminho possível

A psicanálise não promete curas rápidas. Mas oferece um espaço de escuta e elaboração profunda, onde o sujeito pode reencontrar seu próprio sentido diante do que o angustia. Como afirma Jacques Lacan: “a ansiedade não engana” — ela é o afeto que mostra que algo precisa ser escutado com verdade.

 

Conclusão

A ansiedade é um chamado. Um desconforto que revela um conflito psíquico, um desejo, uma dor. Quando escutamos esse chamado com ética e profundidade, podemos transformar a prisão em travessia.

Se você sente que a ansiedade tem tomado conta do seu cotidiano, você não está sozinho. Existe ajuda, existe escuta. E existe um caminho para tornar o insuportável... suportável.

 

📬 E você? Como tem lidado com a sua ansiedade?

Entre em contato no WhatsApp (51) 99466-5883. A escuta certa pode transformar a dor em potência.

 

Psicólogo Luis Ismael dos Santos
ismael.santos@ufcspa.edu.br
13/07/2025 – 17h47

 

📚 Referências

Freud, S. (1917). Conferências introdutórias sobre psicanálise.
Klein, M. (1946). Notas sobre alguns mecanismos esquizoides.
Winnicott, D. W. (1960). O medo do colapso.
DSM-5. American Psychiatric Association (2013).
Organização Mundial da Saúde. (2023). Dados globais sobre transtornos mentais.
Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA). Publicações clínicas.
International Psychoanalytical Association (IPA). Estudos sobre ansiedade.
Scielo, PubMed, PePSIC, LILACS, Redalyc – Artigos 2020-2025 sobre transtornos de ansiedade e psicanálise.

 

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"A psicanálise oferece ao sujeito a chance de deixar de ser apenas um portador de sintomas

e tornar-se autor de sua história."

MANNONI, 1986